sábado, 28 de fevereiro de 2009

AS DISTORÇÕES HUMANAS E O GEN DO OTIMISMO: VIVEMOS EM UMA MATRIX ?

Talvez nos falte o gen do otimismo, descoberto recentemente por cientistas, e talvez por isso, sejamos incapazes de olhar o mundo de hoje com olhos mais otimistas e vibrantes.
Ou talvez, como em uma Matrix, vivemos em um mundo onde ilusão e realidade coexistem de tal forma que já não somos capazes de entender quando algo é bom e algo mau.
As distorções humanas diante de tudo que o cerca é tão assustadora que nos faz sentir vontade, às vezes, de fugir para uma “ilha da fantasia”, onde como no programa da década de setenta, podemos viver, nem que por um dia, a realidade que gostaríamos de viver.
Hoje, é tão comum jovens viverem trancafiados em suas casas, em frente ao computador, vivendo em mundos virtuais, com seus avatares tão diferentes deles mesmos.
Atualmente são tão normais, pessoas maturas, optarem por relacionamentos virtuais, ao invés de viverem relacionamentos de carne osso.
Vivemos em mundo onde precisamos provar ao outro e à nós mesmos que somos capazes de grandes prodígios! Que podemos ser tão virtuosos quanto os artistas de Hollywood e nos esquecemos muitas vezes, que a virtuosidade das celebridades é tão frágil quanto um cristal: produzida e destruída, da noite para o dia, pelos tablóides ao redor do mundo.
Queremos construir em nós o mito e nessa ânsia por construirmos o nosso mito, esquecemos quem somos. Já não conseguimos viver sem precisar de algo que nos contenha em nós, e talvez por isso, seja tão comum hoje, em pessoas tão jovens, o consumo indiscriminado de ansiolíticos e antidepressivos.
Precisamos nos tornar os nossos avatares. Precisamos achar “o segredo”, mesmo que ele esteja muito além de livros de auto-ajuda. Estamos perdidos em meio a um mundo de informações desconcertantes e amargas que nos diz o tempo todo que “estamos em crise”, “as calotas polares estão derretendo”, o mundo vive em um caos climático descontrolado”, e por outro lado, nos acena com fotos glamourosas de pessoas famosas, aparentemente vivendo a vida de sonhos que desejamos (será que desejamos mesmo?) e não temos.
As livrarias estão cada vez mais abarrotadas de livros ao estilo “seja feliz hoje”, “fique milionário”, livros que podem até dar uma sensação inicial de que “tudo podemos”, mas que com o tempo, gera a frustração de percebemos que o Universo não funciona como uma lâmpada mágica. E que não basta “pedir para ter”, é necessário agir e aprender a viver no agora; exatamente como somos, imperfeitos, sem glamour...enfim, tão humanos.
Essa semana um jovem russo de vinte oito anos, morreu após uma ingestão excessiva de “viagra”, conforme noticiou o Blog Page Not Found do O Globo Online, tudo porque queria provar que podia ter uma performance sexual, maravilhosa, durante doze horas ininterruptas. Resultado: morreu de infarto fulminante.
O mais assustador é que esse jovem não é o único de sua idade que se utiliza da famosa pílula azul, com esse intuito. A pergunta que fica é: por quê?
Talvez os valores que norteiam a nossa sociedade estejam na verdade deformando a alma de nossos jovens, à ponto deles esquecerem que viver e amar com qualidade, é o verdadeiro segredo da felicidade e não se utilizar de meios artificiais para agir como um “super-homem”.
Às vezes, tudo que os seres humanos precisam é descobrir que seu melhor amigo está no seu espelho todas as manhãs e que o Universo pode não ser um catálogo, como “O segredo” promete, mas que você tem em si todas as qualidades necessárias para ir em direção aos seus sonhos. Basta começar a gostar de si mesmo. E amar ser você.
Quem sabe assim, nos amando, seremos capazes de amar demais e isso seja contagiante e transforme o mundo em lugar de mais amor e paz.

SHIRLEI AMARO AVENA WEISZ é advogada e professora universitária.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

FALUN DAFA E A PRÁTICA PROIBIDA!

Estive ontem na porta do consulado chinês no Rio de Janeiro, onde estava ocorrendo uma manifestação modesta. Parei para perguntar do que se tratava e uma das manifestantes, muito gentilmente me entregou um panfleto e falou que a manifestação era a favor de Falun Dafa, também conhecida como Falun Gong.
Para quem não sabe, é uma prática antiga e avançada para aprimoramento da mente e do corpo, baseados em quatro exercícios em pé e um sentado em meditação todos fáceis de aprender, que objetivam desenvolver a virtude e a natureza do coração e da mente (conforme consta do próprio panfleto por mim recebido).
Segundo a manifestante, eles estavam lá de prontidão, porque havia a notícia de que o presidente da China estava hospedado no consulado e eles queriam chamar a atenção dele, para perseguição que estava ocorrendo na China aos praticantes desse exercício milenar. Segundo o panfleto, praticantes estão sendo humilhados na frente de dezenas de pessoas na Praça da Paz Celestial em Benjing, a mesma onde um rapaz durante uma manifestação há anos, foi atropelado por um tanque de guerra.
O mais impressionante, é que nem mesmo um caso de retaliação foi reportado em mais de cinco anos de perseguição do governo chinês aos seus praticantes. Afinal, existe na China um bloqueio de informações e a ordem dada pelo Poder Chinês foi à de destruir os praticantes, de forma física mental e econômica, conforme explica um dos manifestantes.
Ressalte-se que a perseguição não é voltada apenas aos chineses. Desde novembro de 2001, já foram detidos ou agredidos por praticar Falun Gong mais de 100 praticantes ocidentais.
A China que hoje caminha em direção a ser uma grande potência, lamentavelmente o faz às custas de diversos crimes contra os direitos humanos: existem dados da U.S News e dados oficiais do próprio governo chinês que informam que mais de 100 milhões de pessoas tiveram seus direitos humanos negados, mais de 200 mil foram ilegalmente detidas, mais de cem mil pessoas estão em campos de trabalhos forçados, outras mil foram enviadas à hospícios, sem qualquer laudo que justifique tal internação.
Não podemos esquecer ainda os dados que informam que mais de 4 mil pessoas foram torturadas (fontes de dentro do governo chinês falam em milhares), além de milhões de livros legalmente publicados, fitas de áudio e vídeo, confiscados e destruídos.
As estação de TV internacionais que visitaram a China sabem que suas filmagem são acompanhadas de pertos por agentes do governo chinês e devem ter uma autorização prévia para fazê-las, e quem conhece a China sabe a grande discrepância existente entre o povo que vive nas áreas rurais e nas áreas urbanas.
O governo chinês faz de tudo para manter suas mazelas longe dos holofotes do mundo, o que não signifique que missionários de todas as nações as desconheçam.
O que mais me chocou na manifestação em frente ao Consulado Chinês é que como praticante de artes marciais chinesas, fica difícil aceitar que pessoas sejam presas e passem anos de trabalhos forçados, sem julgamento, apenas porque praticam exercícios de meditação!
“A razão para perseguição parece ser uma paranóia do governo Chinês, que acredita existir por trás do movimento, algum líder que deseje tomar o poder, já que conforme fontes do “U.S News” e “World Report” o falun Gong ou Falun dafa é a “maior organização voluntária na China, maior até do que o Partido Comunista”.
Os pilares dessa prática milenar proibida são a verdade, compaixão e tolerância. Ao que tudo indica, e o dados colhidos pelos meios de comunicação citados e pelo panfleto recebido, tais pilares batem de frente com tudo que vem sendo praticado na China nos últimos anos e é acobertado pela censura que vigora naquele país.
A pergunta que fica é: Por que deveríamos nos preocupar com que está acontecendo na China? Conforme consta inclusive do panfleto que recebi na porta do consulado.
Bem, acho que podemos nos omitir e continuar comprando produtos fabricados por mão de obra escrava (por sinal bem mais baratos) e continuar fingindo que não somos responsáveis pela mantença da escravidão naquele país. Afinal, quem somos nós?
Podemos continuar fechando os olhos para tudo que acontece ao nosso redor e colocar a cabeça no travesseiro. Mas verdade é, quando agirmos assim, somos coniventes e responsáveis.
Se para alguns, isso pouco importa. Tudo bem. Cada um com juízo de valor. Eu de minha parte, prefiro não me calar ante a barbárie.
Parafraseando Marthim Luther King: ´"O que mais preocupa não é o grito dos violentos, dos corruptos ou dos desonestos. O que mais preocupa é o silêncio dos bons"
E espero que os bons comecem logo a gritar! Antes que respirar também seja proibido.

Shirlei Amaro Avena Weisz, é advogada e professora universitária de Direito Internacional.