quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

UMA LUZ NA ESCURIDÃO.

Que país é esse meu Deus, onde roubam flagelados? Incompreensível ver meus conterrâneos que perderam tudo, menos a vida, sendo furtados no momento de sua dor, por soldados fardados e por gente da nossa própria terra!
Incompreensível entender como é possível um ser humano ser capaz de se “voluntariar” com o suposto intuito de fazer a diferença na vida daqueles que sofrem a perda de suas casas, de suas lembranças de família ( como fotos e outras coisas irrecuperáveis), de parentes que morreram soterrados e a única diferença que fizeram foi a de lesarem mais ainda, essas pessoas que já perderam tanto.
Em Blumenau, minha terra natal, um homem “vai às compras” no local organizado para separar às doações aos desabrigados e pego em flagrante pela câmera escondida por repórteres de uma rede de televisão, admite que levou algo para sua casa: algo que os desabrigados não têm e ele têm.
Que país é esse onde até soldados do exército participam de tal atrocidade? Justo eles que foram enviados para lá, recebendo dos cofres públicos, para “salvar vidas e ajudar pessoas”?
A minha revolta foi amenizada pela história de um conterrâneo, cuja neta encontrou vinte mil reais no bolso do casaco que ele recebeu como doação: ele fez questão de descobrir de onde tinha vindo àquele casaco, ir até a casa da doadora do mesmo e devolver o dinheiro!
Nesse momento eu pensei que o mundo ainda tinha salvação, afinal, ainda existem pessoas honestas mesmo em meio ao caos: justo ele que perdeu tudo, preferiu não ficar com o que não lhe pertencia, ao contrário daqueles que se “voluntariaram para ajudar” e resolveram “pegar algum para si”, mesmo sabendo que aquelas doações eram destinadas à outros.
Em dezembro, existem duas festas religiosas comemoradas, uma por cristãos e outra por judeus: a dos cristãos é o Natal e a do Judeus é o Chanuká e ambas tem o mesmo significado, que é o de trazer à luz de Deus para as nossas casas, para os nossos lares.
Os cristãos comemoram a vinda de Jesus ao mundo. A vinda da luz divina ao mundo. Luz esta que deve estar presente no coração de cada cristão, não só nessa época, mas durante todo ano, segundo alguns sacerdotes.
Os judeus comemoram a “festa das luzes” quando se deve acender a Menorá, simbolizando a cada dia, que se acende uma vela da mesma, a entrada da luz de Deus em e suas casas em suas vidas! Luz esta que deve iluminar seus corações durante todos os dias de suas vidas, segundo os ensinamentos da Lei Mosaica.
Será mera coincidência ? Ambas as religiões dizerem a mesma coisa? Eu não acredito em coincidências, mas acredito que o gesto daquele senhor em devolver soma tão significativa de dinheiro ao seu verdadeiro dono, enquanto todos nós horrorizados, assistíamos pela TV o saque de nossas doações, não foi algo sem qualquer significado: mero acaso ou coincidência.
Acredito que este gesto de caráter e honradez em meio ao caos, signifique que ainda que exista o mal no mundo e pessoas que insistam em seguir por este caminho, também existem pessoas honestas, boas e que agem pelo caminho do bem.
Esse homem para mim foi à luz na escuridão e me fez ver com seu gesto que apesar de toda torpeza que vimos pela TV, devemos continuar enviando donativos: porque lá naqueles abrigos, há muitas pessoas como ele, que precisam de nós. Precisam da luz que podemos trazer ao mundo com o nosso gesto de amor. Amor este, capaz de iluminar a vida de todos.

Shirlei Amaro Avena Weisz é advogada e professora Universitária

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